segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

PS

PS: Quando fui selecionar as fotos com as legendas para botar na postagens abaixo me lembrei de um crônica que li recentemente do escritor Rubem Alves, pois a totalidade das fotos que eu tinha escolhido inicialmente eram de tragédias, então resolvi mesclar os assuntos e temas das fotos.
Para quem ficar com vontade de ler a crônica que fala sobre a preferência do povo por um certo tipo de notícia aqui está ela.
Acho Bem - Acho Mal
Rubem Alves
Na Escola da Ponte havia um computador com dois arquivos: “Acho Bem“ e “Acho Mal“. Qualquer pessoa podia escrever neles os acontecimentos que davam alegria e os acontecimentos que davam tristeza. Sugestão: que os jornais sejam divididos em duas seções. Uma de nome “Acho Bem“, em cores alegres. Outra, de nome “Acho Mal“, em cores sinistras. Assim, o leitor poderia escolher o seu menu: ou comidas de cheiro bom ou pratos em decomposição. Coisa que não entendo é a preferência do povo por notícias putrefatas. “Menino de onze anos trabalha como engraxate para sustentar a avó paralítica“: isso jamais seria manchete. “Menino de onze anos mata a avó paralítica para roubar dinheiro“: isso seria notícia que todos leriam avidamente. Um filósofo chamado Feuerbach disse que nós somos o que comemos. De tanto comer comida suína chegamos a nos parecer com os porcos. Meu amigo Brandão, na época do escândalo dos “anões do orçamento“, há muito esquecidos, se queixava: “Lendo os jornais a gente tem a impressão de que o Brasil é formado por bandidos. Mas há coisas lindas acontecendo de forma silenciosa e invisível, pessoas que vivem por ideais altos e lutam pela justiça e pela verdade...“ Será que nós, humanos, sofremos de uma doença inata, um pecado original que nos faz preferir o pútrido, o escabroso, o indecente, o violento? Os homens da mídia vivem repetindo que o dever dos jornais e da televisão é dar a “notícia“. Mas “notícias“, há milhares delas espalhadas pelo mundo. O que me espanta é o critério que se usa para pinçar, das milhares que há, aquelas notícias que irão ser servidas aos leitores como comida. É preciso reconhecer que os jornais e a televisão são os fatores mais importantes na educação do povo. Jornais e televisão têm a missão ética de contribuir para que o povo seja melhor. Se o povo só se alimentar de comidas pútridas ele passará a gostar do pútrido. E, ao final, ficará também pútrido.

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